domingo, 21 de dezembro de 2008

Mordor

"Viva em Mordor por muito tempo e você vai acabar parecido com Gollum" (1).

Acabo de ver a trilogia do Senhor dos Anéis e, como não resisto, tenho de fazer minha releitura da história-fantasia de Tolkien. Então, em leitura aleatória de posts de blogs (cheguei à conclusão que para ser um bom blogueiro, é preciso antes de mais nada ler e comentar blogs alheios, e há muita riqueza de idéias na blogosfera), me deparei com a frase acima (tradução minha). Esta frase me chamou a atenção, porque o autor tenta ilustrar o cuidado que se deve ter em não se envolver demais em coisas mundanas, sobretudo nessa nossa época de total crise de valores e de confiança. Seu objetivo não era comentar o Senhor dos Anéis, mas apresentar uma alternativa ao indivíduo que trilha o caminho da consciência sobre qual atitude adotar ao perceber que todo o sistema político, econômico, financeiro, social que nos rodeia é corrupto e mantido por uma enorme população de "adormecidos", pessoas como nós, que inconscientemente repetimos padrões de comportamentos que só servem à manutenção do próprio sistema e dos que mais ganham com ele.

Sugere o autor do blog que a evolução da consciência é um caminho a ser trilhado sozinho: não adianta dedicar esforços para tentar despertar os outros, quando ainda não lhes chegou o momento de perceber as amarras que os mantêm prisioneiros da Matriz que se alimenta da sua vitalidade e trabalho da mesma forma que vampiros do sangue de suas vítimas. Eventualmente, mais e mais pessoas despertarão para o lado "bom" da Força ...

Qual, então, a melhor postura? Como retirar poder de um sistema corrompido? Como ajudar a despertar o povo da ignorância? Como acelerar o surgimento de uma ordem mais justa e fraterna, baseada em escolhas conscientes e não dominadas pelas imposições do mercado, da política, da mídia, das religiões? Parece que não há outra postura a adotar a não ser voltar-se para si, fortalecer o poder interior, de modo a que cada indivíduo, a seu tempo, deixe de alimentar o poder externo, dominante. E para despertar os outros, é primeiro preciso despertar a si próprio e cultivar estado de consciência que ponha à mostra as amarras da existência.

Antes de mais nada, quer-me parecer que precisamos desenvolver nossa capacidade de atenção, na linha do "estar aqui e agora", "viver no presente", como escrito nas doutrinas mais antigas, secretas ou abertas, e renovado por autores recentes como Eckhart Tolle, Deepak Chopra, Andrew Cohen e outros. À atenção, adicionamos a intenção, como manifestação consciente do desejo de ser, em vez de fazer ou ter. Com atenção e intenção, podemos almejar a integralidade de nossas ações e pensamentos. Ser integral parece ser, para mim, o desafio ético do novo milênio. Creio haver fortes indícios de que a integralidade é condição para o próximo estágio da consciência humana, no qual estaremos muito mais habilitados a usar nossa intuição, em vez de nossa mente, como ferramenta de libertação do poder externo, sendo essa nossa verdadeira missão de vida.

Ia escrever sobre minha interpretação do Senhor dos Anéis, mas como isso é um blog, e num blog prefiro adotar estilo livre, espontâneo, acabei divagando. Mas deixo aqui o registro de que a trilogia adquiriu, para mim, outro significado, quando identifiquei o anel como simbolizando o ego, causa de todos os nossos males, que tenta nos dominar, atraindo-nos com a promessa de poder, na verdade falso poder, e nos mantém prisioneiros da nossa própria ignorância.
O ego precisa ser destruído como Frodo destruiu o anel, jogando-o na lava vulcânica, ao final de uma odisséia pessoal de enfrentamento dos próprios medos e expansão dos limites com vistas à libertação definitiva. Nessa perspectiva, até que o Senhor dos Anéis não está tão distante dos comentários sobre nossas amarras ao sistema corrupto e vil que nos cerca. Acordemos, pois!


Referências:
(1) Neil Kramer, "The Way of the Infinite Explorer" , blog The Cleaver (14/dez/2008).
(2) Imagem: Gollum, personagem do Senhor dos Anéis (site de origem da imagem).
(3) Imagem: Anel na lava vulcânica (site de origem da imagem).

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

responsabilidade ou culpa?

“Nenhum homem é uma ilha”, disse Teilhard de Chardin, mas em muitos aspectos parece que continuamos a agir como se fôssemos isolados, cercados cada um por uma bolha individual e indevassável, separados da coletividade, do meio ambiente, da economia, da política, do resto do planeta. 

Existe o Universo e existo eu.
O mundo está aí fora e eu aqui, no meu mundinho privado e separado, com as preocupações que considero só minhas, de mais ninguém. Nesse sentido, sinto-me único, peculiar, autônomo e distinto do resto. Quero soluções para a violência urbana, pois vejo-me na condição de vítima potencial desse flagelo moderno que acentua em mim o medo de sair à rua e limita minha capacidade de interagir com a sociedade e a natureza. Mas a violência está lá, é um dado externo e fora do meu controle, e aparentemente não há nada que eu possa fazer a respeito. Posso facilmente apontar “os culpados”: os políticos que pensam em se locupletar dos recursos públicos e não cuidam da saúde nem das instituições sociais; os traficantes, que invadem a periferia com seus produtos de lucro fácil, as drogas, e lançam desafio ao poder constituído; os filhinhos de papai, alienados e drogados, que financiam a manutenção desse complexo de drogas e violência; a polícia corrupta e mal-remunerada, leniente com a criminalidade; o sistema econômico, injusto e discriminatório, que exclui importante parcela da população dos benefícios da cidadania, lançando-os inevitavelmente ao mundo paralelo da droga, do crime e da violência; a falta de fé e esperança num futuro melhor; e muitos outros. 

Nessa lista, não tenho a capacidade de me incluir, de assumir parcela da responsabilidade pelo caos social, de que a violência nas ruas é um dos aspectos mais visíveis. 
Levo minha vida honestamente (com algumas mentirinhas bobas, de vez em quando, que não chegam a desmerecer minha imagem diante da sociedade), pago meus impostos (exceto quando a pouca fiscalização permite que eu burle alguma regrinha sem importância e reduza unilateralmente a carga fiscal que me é imposta – aliás excessiva e desmesurada), vou à igreja (certo, de vez em quando, numa missa de sétimo dia ou num casamento), faço caridade (sobretudo perto das festas de fim de ano, o que reduz minha culpa e permite saborear melhor a ceia de Natal), voto com consciência (não me pergunte se acompanho a atuação dos eleitos para me representar), enfim, vivo com a consciência limpa e mantenho atividade social e comunitária. E sofro com os flagelos do mundo, que existem e se agravam a cada dia, apesar de mim. 


"Eu, responsável pelo caos do mundo? Era só o que me faltava! Já basta a minha culpa judaico-cristã, que me faz sofrer em solidariedade às chagas e maldades da história, e que nem dez anos de psicanálise conseguiriam aliviar. E agora você quer que eu carregue o mundo nas costas? Assuma responsabilidade pelo caos que os outros, bandidos e picaretas de todo o gênero, criaram? Nem pensar! "


Este raciocínio resulta de um erro de perspectiva. Continuamos considerando que somos seres especiais, à parte, isolados do resto. Recusamo-nos a incluir a nós mesmos nos processos sociais e políticos “lá de fora”. É uma posição confortável, afinal é mais fácil apontar o dedo para os outros, colocar a culpa nos políticos, e seguir a minha vida como vítima dessa situação que não criei e pela qual não assumo qualquer responsabilidade. 


Numa perspectiva integrada, no entanto, é imperioso eliminar o véu do narcisismo que nos separa do resto. O resultado é a união a um processo maior, de evolução da consciência coletiva, que ocorre desde que o mundo é mundo, processo do qual não somos observadores nem analistas muito menos vítimas, mas partes integradas e solidárias, responsáveis mesmo pelos desdobramentos que afetam minha casa, meu bairro, minha cidade, minha nação, meu planeta. 


Associar-se conscientemente a esse processo coletivo de criação parece ser o desafio do novo milênio, o próximo passo natural na evolução da consciência que é a própria vida. Essa não é uma tarefa fácil nem evidente, mas é cada dia mais necessária. 

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

recriar o futuro

A cada instante, criamos o futuro. Somos hoje o resultado das escolhas que fizemos, individual e coletivamente, ao longo da história. Criamos uma sociedade avançada, complexa e interdependente. Recebemos a herança e o ônus de administrar as conquistas e as imperfeições de um futuro que foi projetado e criado pelos nossos antepassados e que é, hoje, a nossa realidade social, política, cultural, econômica, ambiental, moral e espiritual. Esse legado é um presente. É o nosso presente. Como vamos lidar com essa realidade? Que escolhas faremos hoje – e fazemos escolhas diariamente, tenhamos ou não consciência disso – para levar adiante a aventura da civilização? Qual a nossa relação com a tribo da humanidade, a nação onde nascemos, o grupo social a que pertencemos, a família em que crescemos? Quais nossos apegos aos objetos externos do desejo, tais como o dinheiro, o poder, o sexo? Qual é a imagem que temos de nós mesmos, como indivíduos conscientes e ativos na criação da nossa realidade? Quais as nossas escolhas nos relacionamentos com outros humanos? Como amamos, perdoamos, exercemos a compaixão?  De onde tiramos motivação para reiniciarmos a vida a cada manhã? Qual a lógica de nossas ações, palavras e pensamentos? Quais nossas inquietações com o mundo não-visível? Qual nossa relação com os assuntos da consciência e da espiritualidade? 


Este blog não pretende trazer respostas, mas compartilhar idéias que ajudem a busca individual e coletiva por caminhos que aprimorem nosso conhecimento a respeito dessas inquietações. Parece evidente que todas essas perguntas estão inter-relacionadas. A aldeia global em que vivemos, cada vez mais integrada e conectada, faz com que os problemas do mundo sejam cada vez mais associados e complexos. Questões do meio ambiente, como poluição das cidades, extinção de espécies ou mudança do clima, só para citar alguns exemplos, exigem a busca por respostas de modo abrangente, multidisciplinar, integrado. Por exemplo, não é mais possível dissociar a produção e venda de automóveis, que continua figurando como critério de pujança econômica na comparação entre países, dos efeitos ambientais causados pelo aumento correspondente na  liberação de partículas poluidoras nas ruas das nossas cidades, nem dos efeitos sociais causados pela retenção do trânsito e o conseqüente aumento no tempo diário de deslocamento das pessoas de suas casas ao trabalho e vice-versa. Qualquer questão que se queira analisar hoje requer uma perspectiva integrada, que considere os impactos e reflexos de cada decisão nos aspectos social, pessoal, psicológico,cultural, teleológico, moral e espiritual. 


Tenho a sensação de que precisamos reinventar o futuro, em torno de uma ética integral, holística, coletiva. Essa não é uma tarefa fácil, mas será que temos escolha? 


quinta-feira, 13 de novembro de 2008

esperança: o menor dos males?


 Quando Pandora, desafiando Zeus, abriu a caixa e liberou todos os males e defeitos da personalidade, lá estava, na mesma caixa, a esperança. Alguém já se perguntou o que a esperança fazia em tão má companhia?


Já li que os gregos consideravam a esperança um mal, um defeito tão ruim quanto qualquer outro. Por isso Zeus a havia confinado na caixa de Pandora, junto com tudo o que temos de pior. A esperança, nessa perspectiva, é um defeito porque amarra o ser, impedindo-o de fazer o que precisa para mudar o seu destino. A esperança segura o homem, torna-o conformado e servil, ao dar-lhe a expectativa de algo externo e poderoso virá resgatá-lo, de que o futuro lhe reserva algo melhor. Por que desgastar-se com a luta agora, por que querer mudar, se há sempre a esperança de que as coisas vão melhorar por si? 


Barack Obama foi eleito tendo como lema a promessa de mudar. O povo o escolheu na esperança de que ele será o arauto da mudança, empunhará a espada da verdade e da conciliação e recolocará os Estados Unidos e o mundo de volta nos trilhos. Porque ninguém mais tem dúvida de que nossa civilização andou descarrilhando alguns vagões pesados, no passado recente. 


Mas poderá vir a mudança de um só líder? Não será essa mais uma vã esperança, um dos males da caixa de Pandora, a entorpecer as consciências e jogar para adiante as verdadeiras  mudanças que a nossa era demanda? 


Só há um modo de mudar o mundo: mudar a si mesmo. O mundo exterior é reflexo de nossa condição interna.  Não adianta cultivar a esperança de que alguém mude o mundo para nós. Ou elevamos a nossa consciência e compreensão da vida, do meio, do outro, ou estamos fadados ao extermínio. Enquanto insistirmos em manter os padrões insustentáveis de produção e consumo como a locomotiva da nossa prosperidade, estaremos rumando para a desgraça. E de nada adianta esperar ou torcer para que as coisas mudem, se continuarmos a alimentar nossos desejos de consumo fútil, diversão fútil, vida fútil. 


Como diz o antigo provérbio chinês, talvez confuciano, "o passado é história, o futuro é mistério, o presente é uma dádiva; é por isso que se chama 'presente'". Estaremos aproveitando essa dádiva para mudar a cada dia o nosso destino?

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

poder

Vejam que interessante esse site de ativismo político internacional: www.avaaz.org. É uma rede que permite que pessoas de todos os cantos do planeta se mobilizem para fazer parte de ações concretas que envolvem grandes problemas que a humanidade enfrenta como o aquecimento global, a paz no Oriente Médio, pobreza e direitos humanos. Dê uma olhada no site em português: http://www.avaaz.org

Que a Internet permite maior participação e ativismo político, não há dúvida. Então, por que não participar também?

A campanha mais recente é o envio de mensagens de apoio ao Obama, e a mensagem que divulgam é a seguinte:
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Depois de 8 longos anos de Bush, chegou a hora de um novo começo! Há muitos interesses em jogo na política americana, mas a vitória do Obama simboliza uma nova chance para os EUA se aliarem à comunidade global para encarar desafios urgentes como mudanças climáticas, direitos humanos e paz. Depois de uma longa história de decepções com o governo norte-americano, o Obama despertou um sentimento de esperança e reconciliação nunca visto antes. Vamos enviar uma mensagem parabenizando e convidando o novo presidente e o povo norte-americano a trabalharmos juntos pelos desafios enfrentados no nosso planeta. Nós construímos um enorme mural perto da Casa Branca em Washington DC onde vamos postar o número de assinaturas da nossa mensagem e colar mensagens pessoais recebidas do mundo todo. Quanto mais mensagens forem enviadas, mais o mural vai crescer dentro das próximas horas. Nós pedimos para o Obama receber pessoalmente nossas mensagens, por isso vamos tentar conseguir 1 milhão de assinaturas! Clique no link para ver a mensagem que escrevemos ou escrever a sua própria:
Este é um momento de celebração mas as mudanças não serão fáceis: a indústria do petróleo, da guerra e o lobby conservador são bem fortes nos EUA. O mesmo grupo poderoso que planejou a guerra no Iraque está se preparando para deter as mudanças propostas pelo novo governo. O Obama prometeu trabalhar pela integração nacional, mas não podemos permitir que ele ceda aos conservadores em troca de conchavos políticos. Vamos enviar uma mensagem de incentivo ao Obama, lembrando-o de se manter firme nos assuntos globais mais urgentes. Contamos com o cumprimento das promessas de campanha, que defenderam um tratado forte contra as mudanças climáticas, o fim da tortura e o fechamento do presídio de Guantanamo, o estabelecimento de um plano cuidadoso para a retirada das tropas do Iraque e a duplicação dos recursos destinados ao combate à pobreza global. Nunca antes na história um presidente norte-americano esteve tão aberto para nos escutar.  
Vamos enfatizar o fato de que a maioria dos assuntos, como a crise financeira e o aquecimento global, só poderão ser resolvidos através de uma solução global, com o mundo todo trabalhando junto. Clique no link para ler e a assinar a nossa mensagem, depois encaminhe este email para seus amigos: 

Com esperança, Ricken, Brett, Alice, Iain, Paula, Paul, Graziela, Pascal, Milena e toda a equipe Avaaz PS – 
Mande uma foto sua para o nosso mural: envie-a para obamawall@avaaz.org  
Saiba mais sobre as outras campanhas da Avaaz – http://www.avaaz.org/po/report_back_2/ 
Veja a lista das 10 promessas de campanha do Obama que estão relacionadas a assuntos globais.
* Reduzir as emissões de carbono dos EUA em até 80% até 2050 e ter um papel mais forte e positivo na negociação do tratado global que irá dar continuidade ao Protocolo de Quioto
* Retirar todas as tropas do Iraque dentro de 16 meses e não manter nenhuma base permanente no país
* Estabelecer uma meta clara para eliminar todo o armamento nuclear do planeta
* Fechar o presídio de Guantanamo
* Dobrar o apoio financeiro para reduzir pela metade a extrema pobreza até 2050 e contribuir para a luta contra o HIV/AIDS, a tuberculose e a malária
* Abrir um diálogo diplomático com países como o Irã e a Síria para buscar uma solução pacífica para tensões políticas
* Desmilitarizar o serviço norte-americano de inteligência para evitar o tipo de manipulação que gerou a guerra no Iraque  
* Lançar um grande esforço diplomático para cessar a matança em Darfur
* Somente negociar novos tratados comerciais que contenham proteções trabalhistas e ambientais para os países envolvidos
  * Investir USD $ 150 bilhões nos próximos 10 anos em energias renováveis e colocar 1 milhão de carros elétricos nas ruas até 2015

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

medo


Em tempos de incerteza, o medo passa a reger as decisões individuais e sociais. Medo de perder dinheiro, medo de sofrer agressão, medo de perder o emprego, medo de ficar doente, medo de ficar só. O predomínio do medo no nosso dia a dia nos leva à segregação e ao conflito. Essa tendência se verifica desde o ambiente familiar até as relações entre países.

O medo resulta do apego, e todo apego é externo ao ser. Só é possível apegar-se àquilo que não consideramos partes essenciais de nós mesmos. Apegamo-nos ao dinheiro, a outras pessoas, ao poder, ao vício. Aliás, o vício, qualquer que seja, nada mais é do que um apego exacerbado, que gera padrão de comportamento repetitivo e inconsciente.

Será que aquela tendência a darmos menos valor ao que é nosso não provém do pouco apego que temos ao que sabemos que não vamos perder? Aquele companheiro fiel e solícito, aquele cão amigo e sempre disposto, aquela mãe amorosa e presente, entendemos que estarão sempre ali, não importa o que façamos. Não nos apegamos ao que é verdadeiramente nosso, ao que imaginamos que ninguém nos pode tirar. Até que, por algum fator externo, nossa percepção se altera e nos leva a crer que algo ameaça nossas pequenas "posses". Pronto, está criado o medo de perdê-las.

Usina de força de nossas ações egoístas, violentas e preconceituosas, o medo justifica tudo. Prestem atenção: quaisquer posições excludentes, conservadoras, xenófobas, racistas, dominadoras, prepotentes, defendidas com violência, força bruta, irracionalidade e aspereza têm, em sua raiz, o componente essencial do medo. Mesmo quando este prefere não se revelar, mas ocultar-se por detrás de argumentos bem formulados, "científicos" ou "dogmáticos", ele está presente.

Dizem as tradições orientais, védicas, que só existem dois sentimentos genuínos: o amor e a ausência de amor, que é o medo. Se, como dizem, o amor é desapego, confiança, entrega, luz, o medo é de fato o seu reverso, porque é apego, desconfiança, resistência, trevas. Ou não?

O medo primordial é o medo da morte. Como todos os outros, esse medo também é falso. Afinal, a morte virá, é uma carta que já nos foi endereçada, é certeira e intransponível. Ninguém fica prá semente, não é verdade? Então, por que temê-la? Será que perder o medo da morte significa perder o apego à vida? A vida, como nos foi dada, nos será tirada, quando for chegada a hora. Isso é um fato incontestável. Viver apegado a ela significa agir com base no medo de perdê-la. Mas se esse medo é intrinsicamente falso, então nossas ações estariam assentadas em falsas bases. Não sei quanto a vocês, mas não é assim que quero viver minha existência.

Crise não deve ser confundida com medo. No sentido etimológico da palavra, crise significa mudança, oportunidade. É nas crises que nos confrontamos com momentos de decisão, e é nesses momentos que somos chamados a tomar atitudes e posições que nos definem como seres humanos. Se seguirmos a distinção feita desde as antigas civilizações, nossas ações podem ter por base o amor ou o medo, nada mais. Podemos mirar mais adiante e agir na certeza de que nada temos a perder, ou nos podemos aferrar à segurança ilusória de nossas circunstâncias e fazermos de tudo para manter e defender o pouco que acreditamos ter.

O instinto de sobrevivência existe e é sempre útil, para resguardar-nos do abrupto fim. É instinto, e sobre o instinto não adianta teorizar, porque a reação instintiva não alcança a mente, antecipa-se a qualquer decisão racional. É como tirar a mão da chapa quente: alguém pensa e reflete sobre os prós e contras de deixar o dedo queimar, antes de mover o músculo para afastar a mão da chapa?

Até aqui, nada de novo. O interessante é transpor essa lógica para a coletividade e imaginar como nossas famílias, tribos e nações tomam decisões, seguindo os mesmos padrões de apego e consciência a que nós, indivíduos, estamos sujeitos. Não pretendo entrar aqui numa discussão sociológica, imagino que nossos sociólogos já tenham escrito muito sobre essa relação, mas quero registrar minha percepção de que a emergência de uma consciência coletiva global, processo que dá indícios de já ter começado (e pretendo escrever sobre isso mais adiante), exigirá uma reflexão muito ampla sobre os limites e as estruturas dos nossos grupos sociais, a começar pelo modelo de Estado-nação. E aí, veremos como vamos reagir, individual e coletivamente, à emergência de algo novo, desconhecido, que tenderá a pôr por terra os conceitos aos quais nós mais nos apegamos. Ou não, se lembrarmos que o apego é o resultado do medo e decidirmos que nosso futuro deve ser construído em outras bases. Afinal, o que temos a temer?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

confiança

Não queria falar da crise financeira. Primeiro, porque não sou economista, segundo porque fatos e versões abundam por aí. Mas é irresistível, sobretudo daqui de Washington, onde não se fala de outra coisa, além da campanha eleitoral. Aliás, a crise virou também o monotema da campanha, sem que se consiga identificar com clareza soluções apresentadas nem por Obama nem por McCain. Será que eles conseguem?
A crise dos mercados financeiros é uma crise de confiança. Coluna dorsal do capitalismo financeiro, o crédito lastreado em dívida vem há décadas mantendo padrões de consumo totalmente descolados da realidade. Toda a economia gira em torno da promessa de que títulos de dívida serão honrados no prazo. Para quê imobilizar capital num imóvel, por exemplo? Melhor fazer uma hipoteca a juros baixos e prazo longo e usar o dinheiro no consumo, movimentando assim a economia numa espiral ascendente e virtuosa. Minha dívida, ou seja, a promessa de pagamento que assinei no banco, é então transformada pelo banco em dinheiro, que é emprestado para outros que entram na mesma onda. O dinheiro é "alavancado" em fundos de ações, derivativos, "hedges" e outros títulos de nomes pomposos, todos ancorados na promessa de que as dívidas serão pagas. E e o bolo vai crescendo, crescendo, crescendo e mostrando vitalidade, riqueza e altos lucros, resultantes do próprio dinheiro emprestado. Ou seja, aqui, dinheiro é dívida; é a dívida, não o trabalho, o que gera a riqueza desse país.
E se, por algum motivo, alguns desses milhões de endividados começam a atrasar os pagamentos? O dinheiro que os bancos milagrosamente produziram, tendo como lastro os títulos de dívida dos cidadãos, começa a se tornar escasso. Os bancos retomam, sim, na justiça, boa parte dos imóveis dados em garantia dos empréstimos, mas até lá os preços dos imóveis despencaram, por conta da maior oferta, falta crédito (originado das dívidas, lembra?) para emprestar a novos compradores, e a espiral ascendente logo começa a frear e retroceder. Os bancos começam a trabalhar "no vermelho", não conseguem mais obter empréstimos para alimentar o esquema, não conseguem $$ nem mesmo de outros bancos, que passam a desconfiar da saúde financeira dos demais, e se cria um círculo vicioso. Quando um ou dois grandes bancos vêm a público declarar que têm muita dívida "tóxica", ou seja, não conseguem mais produzir dinheiro a partir dos seus empréstimos, suas ações despencam, seus clientes querem tirar de lá seus recursos, e por quê? Por falta de confiança no sistema. Tendência natural do ser humano nessas horas é querer salvar o seu. Como dinheiro não é riqueza, dinheiro é dívida, quando a dívida não é honrada, o dinheiro não existe!
O crédito é o oxigênio da economia. Sem ele, asfixiam-se as transações reais - compras de automóveis, bens de consumo pessoal, viagens, até gasolina e comida. O resultado é a recessão, normalmente sucedânea de momentos de crise financeira como o atual. Ou seja, a crise está só começando. Veja o estrago que o abalo de confiança é capaz de fazer.
Qual a saída? "Restaurar a confiança nos mercados financeiros para que eles voltem a emprestar", é o que mais se fala por aqui. Mas como? Confiança não é um conceito objetivo, racional, controlável. Pode-se levar uma vida para construí-la e basta um mau momento para destruí-la irreparavelmente. Pense em alguém que mentiu para você e você descobriu porque outros lhe contaram. Você vai readquirir confiança naquela pessoa? Imagine todo um sistema financeiro desacreditado. Você aplicaria seu dinheiro nele? As grandes decisões econômicas têm portanto origem subjetiva, emocional e imprevisível.
Mas e o governo? Acho que Bush não ajudou muito. Ao anunciar a catástrofe, só fez precipitá-la. Ao querer liderar a resposta vultosa do governo, com o pacote de 700 bilhões de dólares em recursos públicos para resgatar os ativos "tóxicos" dos bancos, revelou um país à deriva. Sem plano B, o pacote acabou aprovado "de segunda", após negociações e concessões que podem ter minado ainda mais o objetivo principal, que era restaurar a confiança nos mercados.
Serão 700 bilhões suficientes? Ninguém mais acredita. Confiança não se cria por decreto. E de onde vem esse poder fenomenal, capaz de criar, numa só penada, 700 bilhões de dólares? Será que esse dinheiro existe, ou ele está sendo criado também com base na "confiança" de que o governo sabe o que faz?
Como os Estados Unidos são a locomotiva da economia mundial, a crise que começou aqui logo se alastrou para o mundo. Sem poder resolvê-la aqui, agora o governo Bush vai reunir autoridades financeiras dos principais países (talvez até convidem o Brasil) para buscar uma solução coletiva e urgente. Provavelmente pensam em socializar o prejuízo, sob o argumento de que, se não pagarmos a conta para restabelecer o sistema funcionando, nós sofreremos mais, já que somos periféricos e dependentes.
Os mercados financeiros são uma grande ilusão. Circulam diariamente bilhões de dólares que nunca existiram e provavelmente nunca existirão, a não ser na ficção de contas feitas com a promessa de lucro fácil e nenhum esforço. Talvez estejamos assistindo, sim, ao fim do capitalismo financeiro mundial. E com ele o fim da liderança norte-americana. Mas o que a sucederá?

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Pale Blue Dot

Recebi este vídeo da Luiza e compartilho aqui. Ele relativiza a nossa importância diante do universo. Hoje, os cosmólogos voltaram a ter prestígio na ciência, já que novos instrumentos permitem ver o Universo como nunca antes pudemos vê-lo. Uma das conclusões tende a recuperar nossa posição central no cosmos, pelo simples fato de que só podemos ver o mundo da perspectiva desde planetinha minúsculo, numa estrela lateral, numa das bilhões de galáxias que existem. Só que, olhando daqui da Terra, para qualquer lado, estaremos sempre no centro. Afinal, onde é o centro do cosmos? 
 

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

evolução

Charles Darwin descreveu o processo de seleção natural e evolução das espécies. A ponta-de-lança desse processo é o ser humano: nada mais evoluído foi ainda descoberto no Universo conhecido.

Fomos o resultado de bilhões de anos de evolução, desde que a poeira cósmica do Big Bang começou a fixar-se na órbita dessa estrela secundária que chamamos Sol e os primeiros elementos da vida por aqui apareceram. De organismos unicelulares e amorfos, as espécies surgiram e se diversificaram. Antes de nós, habitaram o planeta mastodontes e dinossauros. Eles se foram, por conta de uma colisão de asteróide, e os mamíferos, até então seres rastejantes e escondidos em valas e cavernas, herdaram a Terra.

Em determinado momento crítico da história planetária, algum ancestral comum a nós e aos símios diferenciou-se, dominou o fogo e, tendo como arma a pedra lascada, impôs-se às demais espécies. Desde então, a evolução só se acelerou. Viramos bípedes, cultivamos a terra, domesticamos as feras, fizemos guerras, inventamos deuses, fixamo-nos em aldeias que viraram vilas que que se uniram em tribos que viraram nações que hoje são países.

A espécie humana desenvolveu a capacidade de pensar a si mesma, o que a diferencia de todas as demais espécies sobre a Terra. "Penso e sei que penso", "penso, logo existo" e muitos outros anátemas de nossa existência foram ditos e repetidos ao longo dos séculos. Tudo nos levou a crer que a evolução havia chegado ao ápice, que nossa espécie, feita "à imagem e semelhança do Criador", era o destino final de todo esse longo processo evolutivo.

E se estivermos só a meio caminho? Quer dizer, se nós não formos ainda a espécie mais desenvolvida possível, e estivermos aqui só para passar adiante esse ímpeto criador que começou lá atrás, com o Big Bang, e que está ainda ativo nos nossos cromossomos e em todas as manifestações da vida? E se formos nós os herdeiros da criação e tivermos então a responsabilidade de avançar a algo novo, totalmente impensado, mais evoluído e consciente do que nós jamais tivemos a capacidade de ser? E se uma nova e mais evoluída espécie estiver a caminho para nos substituir como senhores do planeta?

Pareceria estranho que tivéssemos chegado ao cume da criação - que todo o processo de evolução do universo fosse resultar num ser capaz de criar maravilhas e, ao mesmo tempo, causar destruição e morte. Olhe o mundo à sua volta: desespero, fome, guerra, terrorismo, egoísmo, inveja, ódio. Serão essas características compatíveis com o objetivo maior da criação? São elas compreensíveis se estivermos de fato no último e mais avançado estágio da evolução da vida?

Suponhamos que não, não somos nós, seres humanos, os ideais finalísticos da força criadora que impulsiona o Universo desde o princípio dos tempos. Só por um momento, vamos deixar de lado nossa vangloriosa capacidade de imaginarmo-nos como o que há de mais perfeito no Universo. Poderíamos concluir que estamos aqui com um propósito: preparar o terreno para o surgimento de uma consciência maior, superior à nossa, que elimine de vez os flagelos que impomos aos nossos próprios irmãos. Se este é o caminho da evolução, qual será então o futuro ser, pós-humano e pós-moderno, resultado de nosso próprio processo de criação consciente do futuro na Terra?

Em tempos de crise de valores, crise ética, moral, social, ambiental, econômica, humana, essa não parece ser uma reflexão descabida. O mundo que queremos criar para nós e legar ao futuro requer desapego, abertura ao novo, rejeição de tabus e dogmas. Requer sobretudo idéias, muitas idéias criativas - eis a própria essência da criação, em processo contínuo nas nossas consciências individuais e na evolução para a nova consciência, que será, imagino, coletiva e universal. Mas esse já é assunto para outro papo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O ego e o espírito



O ego busca a paz — o espírito vive na paz.

O ego busca o amor — o espírito distribui livremente o amor.

O ego busca constantemente a felicidade — o espírito vive nela.

O ego busca o controle — o espírito é totalmente livre.

O ego busca a longevidade — o espírito é imortal.

O ego acumula informação — o espírito é Conhecimento Supremo.

O ego está limitado pelo tempo e pelo espaço — o espirito é ilimitado.

O ego é só um entre muitos — o espírito é a própria vida.

O ego é falso — o espírito é real.

O ego quer mais e mais — o espírito tem tudo!

Fonte:
Shortcut to Spirituality: Mastering the Art of Inner Peace
Bob Gottfried
Págs. 118-119 (original em inglês)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

dicas para turbinar o blog (em inglês)

O site abaixo apresenta 50 dicas para turbinar um blog. Ainda não pude ler nem testar, mas deixo aqui para referência de quem tiver interesse.

"50 Ways to Take Your Blog to the Next Level | chrisbrogan.com

In 50 Ways to Take Your Blog to the Next Level, I wanted to share my thoughts on how you should consider your goal, your design, your content, how you promote it, and the business aspects of your blog. Please add to these ideas in the comments, and let’s grow the list out."


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

alguém topa repensar o futuro?

Neste início de milênio, é urgente que comecemos a definir um novo contexto filosófico, moral e espiritual que, com profundidade e amplitude de visão, seja capaz de incorporar a natureza multidimensional da manifestação humana, em toda a sua complexidade.

A parte mais importante desse projeto é, quero crer, o desejo de transformação das relações humanas, mediante a união de indivíduos em torno de um propósito maior, de modo a que mais e mais de nós sejamos capazes de intuir diretamente da fonte os contornos e parâmetros desse novo contexto social, na dianteira da evolução da própria consciência humana.

(inspirado em Andrew Cohen)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A pqp existe!

o coletivo não tão harmônico

As reações que recebi ao texto anterior, sobre a 'harmonia do coletivo' demonstrada na abertura da Olimpíada, me fizeram repensar o que escrevi. Parece que a harmonia chinesa resulta de processo forçoso e autoritário. A supressão do indivíduo existe por imposição do poder público. A coordenação dos movimentos, que dá a impressão de tanta conexão entre os pares, seria o resultado de um treinamento marcial, feito por soldados do exército vermelho. Em resumo, a harmonia é exterior, tem efeito bonito, mas não encontra eco na consciência individual.
Mas não desisto da minha busca por exemplos de harmonia da coletividade. Acredito no surgimento de uma consciência pós-indivíduo, por meio da reunião de pessoas que, por estarem tão integradas e conectadas, superem o ego em favor da manifestação coletiva. Esse é para mim o próximo passo lógico e natural no processo evolutivo da nossa espécie.
'Harmonia', aliás, é um importante quesito de avaliação das escolas de samba no nosso carnaval. Será que as escolas de samba poderiam ser exemplos tupiniquins dessa harmonia do coletivo? O maior show da terra seria a nossa demonstração da capacidade de ação coletiva de forma coordenada e harmônica?
O resultado é bonito. Quem já desfilou na Sapucaí deve ter experimentado, como eu experimentei, a euforia inigualável de ser parte da escola; a sensação de anular a individualidade para permitir a manifestação do grupo, sendo cada um parte essencial dele; a resposta imediata - e também coletiva - da arquibancada.
O fato é que, independentemente da existência de exemplos pontuais e esporádicos de harmonia coletiva, o grau de consciência da humanidade, que segue privilegiando o individualismo e a competição, não permite ainda que migremos para manifestações realmente autênticas e espontâneas dessa harmonia. Ou seja, temos um mundo a construir.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

a harmonia do coletivo

As cerimônias de abertura dos jogos olímpicos são sempre eventos vistosos, bonitos, emocionantes. Mas nunca vi nenhum que tivesse prezado tanto pela harmonia e pela coletividade quanto a abertura dos jogos de Pequim. Além do espetáculo de cores e sons, de tradições e tecnologias, de conquistas reais e feitos simbólicos, a Olimpíada começou com uma demonstração jamais vista de trabalho em conjunto, não de uma mente, mas de centenas, em perfeita harmonia e coordenação. É como se cada um tivesse abdicado de aparecer, em benefício do todo; esquecido de si para mostrar o grupo; suprimido a consciência individual para dar espaço à manifestação coletiva.

Numa época em que falamos de evolução humana a novo patamar de consciência, parece claro que o caminho a trilhar é a busca da consciência coletiva, da expressão maior daquilo que compartilhamos todos nós, seres humanos, e que sabemos reconhecer como verdade coletiva, lá no fundo de nossas existências individuais, independentemente da origem, da forma, da manifestação. E a verdade coletiva mostrou-se plena em Pequim. Não tivessem chegado a esse nível de evolução da consciência em direção ao coletivo, os chineses jamais teriam sincronizado de modo tão perfeito as batidas de tambores, a contagem regressiva espetacularmente precisa, os blocos em movimento uníssono. O trabalho coletivo foi tão impresssionante que as performances individuais, também fantásticas, foram menos notadas. E mesmo estas foram inseridas no contexto evolutivo da coletividade, das conquistas históricas e culturais provenientes daquela parte do mundo, que agora assume expressão plena, ao mostrar uma verdade de alcance global.

O colunista David Brooks, em sua coluna do New York Times de hoje, para o qual faço o link no título deste post, faz ótima comparação entre o sonho americano, de construção de uma sociedade com base no sucesso individual, na empreitada privada, e a harmonia oriental, de uma coletividade harmônica como expressão cultural máxima de um povo ou nação. Vale refletir até que ponto nosso individualismo exacerbado, à la americana, continua sendo a chave para o futuro.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Engreno: um poema

Engreno
Máquina em movimento
Pára não pára não pára não pára
Mecânica da vida sem cor
Roda dentada engata corrói
Silvo sem alvo salto com dor
Paro de sobressalto:
Apito aviso anúncio marcador
Tens pele tens alma tens fervor
Máquina humana
Homem sem amor
Dor

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Andrew Cohen sobre a criação da coonsciência

Quatorze bilhões de anos atrás, uma tremenda energia surgiu do vazio, e com o tempo evoluiu da luz para a matéria e da matéria para a vida. E com a emergência da vida, a consciência entrou no curso do tempo. Vida e consciência são uma coisa só, e quanto mais complexa for a forma de vida, maior é a sua capacidade de ter consciência. O que é tão milagroso sobre os seres humanos é que por conta do nosso cérebro altamente evoluído, temos a capacidade única de saber que sabemos. No despertar humano, a consciência ganhou a capacidade para conhecer a si mesma e a tudo o que existe dentro de si, o que inclui todo o processo evolucionário que deu origem àquela própria capacidade.

fonte: http://www.andrewcohen.org/teachings/new-enlightenment.asp

quinta-feira, 24 de julho de 2008

qual idioma você deveria aprender?

Fiz um teste on-line para saber qual idioma eu deveria aprender, e o resultado foi...




You Should Learn Japanese



You're cutting edge, and you are ready to delve into wacky Japanese culture.

From Engrish to eating contests, you're born to be a crazy gaijin. Saiko!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

domingo, 20 de julho de 2008

escalas de medida - do micro ao macrocosmo


Neste link, há um aplicativo em flash player, interativo e com som, com uma comparação das escalas de medida, desde o nêutron até a galáxia e o universo. Vale a pena dedicar alguns minutos para explorar a variedade de exemplos e seus tamanhos relativos (site em inglês).

quarta-feira, 16 de julho de 2008

meditações - I

Eu não sou nada nem ninguém.
Não resido aqui nem ali.
Não tenho memória nem conhecimento.
No mundo real, eu não estou.

Sou pó gerado na formação do cosmos.
Sou tudo o que há e sempre haverá, fora do tempo-espaço.
Eu estou, eu sou, eu vou.

Alinho-me à sede de todos os seres.
Sou galho e folhas enraizados na matriz do universo.

Sou o vinho e a cruz.
Sou o perdão e a luz.
Sou amor e sou fé.

(domingo, 15 de junho de 2008)

sexta-feira, 4 de julho de 2008

canção da Terra



No final deste vídeo, há uma imagem do planeta Terra e junto dela uma mensagem do Carl Sagan, que diz mais ou menos assim:

"Nosso planeta é um pequeno ponto envolvido numa grande escuridão cósmica.
Na nossa obscuridade... em toda essa amplidão... não há nenhuma indicação de que virá de algum lugar a ajuda para salvar-nos de nós mesmos...
não há talvez melhor demonstração da loucura dos conceitos humanos do que essa distante imagem do nosso pequeno mundo.
Para mim, ela revela nossa responsabilidade para agirmos com mais carinho e compaixão uns com os outros e para preservarmos e apreciarmos aquele pálido ponto azul, o único lar que nós jamais conheceremos."

sábado, 21 de junho de 2008

solstício de verão no hemisfério norte - o dia mais longo do ano

Estou hoje em Paris, cidade cheia de romantismo e arte. Às dez horas, o dia estava ainda claro. O sol só se foi completamente por volta das onze. Vimos a cidade do alto, primeiro da torre Montparnasse e depois da Catedral do Sagrado Coração de Monmartre. Havia vida e alegria nas ruas, palcos ao ar livre com bandas de rock, pequenas raves de esquina, solistas e corais nas escadarias do morro. Muita, muita gente estava nas ruas e nos parques, em espírito de festa e celebração.
Hoje, dia 21 de junho, é o dia mais longo do ano aqui no hemisfério norte, o solstício de verão. Os nativos americanos acreditam que as circunstâncias no momento do solstício indicam o que o próximo ano trará. É o solstício que marca o início de um novo giro da Terra em torno do sol.

Barbara Wolf propõe, para esta data, que alimentemos a árvore da vida com vibrações elevadas, de amor e harmonia. "Acho que vocês concordarão comigo que nós todos estamos fartos de negatividade. Vamos nos concentrar no positivo, chamado amor " - diz ela.

Desejo elevadas vibrações a todos, nos dois hemisférios, em cada dia desse novo ciclo solar.
Muita luz.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

12 de junho - dia para falar de amor

Não sei se é por causa das duplas caipiras ou das canções do Rei, o fato é que falar de amor, nos nossos dias, virou uma coisa no mínimo brega. Fugimos do assunto como se não quiséssemos sentir, como se a sociedade exigisse de nós a renúncia a esse sentimento, em favor de uma postura intelectual, lógica, segura. Afinal, queremos parecer racionais, evoluídos e bem-sucedidos, e nessa máscara social, o amor acaba ficando sem espaço para manifestar-se.
Mas o fato é que amamos, amamos muito, todo o tempo, e na maioria das vezes nem sabemos exatamente o que isso quer dizer. Às vezes, confundimos o amor com paixão, com dependência psicológica, outras vezes achamos que amar é suprir uma lacuna de afeto que trazemos desde a infância, e daí começamos a cobrar respostas e sofrer quando elas não vêm. Então, para evitarmos sofrer, sufocamos o sentimento, e com ele vai também aquela possibilidade única, verdadeiramente humana, de oferecermos todo o nosso potencial em favor do outro, em favor da humanidade, em ato de comunhão e vida.
Esquecemos, por vezes, que o amor é um poder divino. É ele que nos aproxima de Deus, que nos faz crescer como pessoas, que nos inspira a criatividade, que nos diferencia da frieza das máquinas e que nos estimula a sentimentos ainda mais nobres, como a compaixão e o perdão.
O amor não impõe condições nem espera retorno. O amor está acima da mesquinhez do ego e da aritmética do "o que eu vou levar em troca?". O amor existe, é, e basta. Seu sentir nos eleva
acima do ego, do desejo, das paixões, da mente. Amamos quando não exigimos retorno, para logo depois ficarmos surpresos e felizes com o amor que nos retorna pelas vias mais inesperadas.
Qual a sua compreensão de amor? Você se ama? Como você tem sintonizado ultimamente com as freqüências elevadas do amor, do perdão, da compaixão? Eis uma sugestão de reflexão pessoal neste dia dedicado aos nossos amores. "Ame e dê vexame", escreveu Roberto Freire. O que temos para nos envergonhar desse sentimento tão nobre?

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Andrew Cohen disse...

"Nos níveis inferiores de desenvolvimento, a consciência humana pode ser definida como egocêntrica, e nesse nível, o self não vê contexto além de si próprio. Com o desenvolvimento da consciência, ela se torna etnocêntrica - expande-se ao contexto da família, da tribo, da nação, ou das grandes tradições espirituais. Muitos dos problemas que nós enfrentamos no mundo de hoje derivam desse nível de consciência - da inabilidade de uma nação ou religião em ver além de si própria. É por isso que há uma tremenda urgência para que mais e mais seres humanos evoluam para além da consciência etnocêntrica, para o que nós poderíamos chamar de consciência global ("worldcentric"), na qual nos vemos primordialmente como cidadãos deste planeta, em vez de membros de uma tribo ou nação ou religião em particular."

Fonte: http://www.andrewcohen.org/teachings/context-is-everything.asp

Imagem: mi2g

terça-feira, 10 de junho de 2008

e o bichano se chama...

Blackberry!

Encerrada a votação, o nome Blackberry ganhou com folga. Obteve seis votos, contra dois do segundo colocado. Obrigado aos que votaram, e um agradecimento muito especial a quem sugeriu o nome, que agora virou padrinho!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

algo me atrai nesse discurso

"Nenhum indivíduo ou grupo escolhe conscientemente poluir ou superpovoar o planeta. Simplesmente por causa da falta de consciência, por uma perspectiva auto-centrada e obtusa de indivíduos e de culturas inteiras, nós criamos a crise em que nos encontramos. E não é que não tenhamos os meios práticos para lidar com os problemas que temos, é que ainda estamos olhando para esses problemas da mesma velha perspectiva que os criou. Então há um salto que precisa deseperadamente ser dado por uma minoria significativa - um salto de consciência, um salto moral, um salto espiritual. Precisamos evoluir nossa consciência além desse nível de desenvolvimento, essa perspectiva auto-centrada e de mente pequena, para uma visão bem superior e mais abrangente. "
(tradução de texto de Andrew Cohen)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

banda larga: você recebe pelo que paga?

Os provedores de acesso à Internet costumam reduzir a velocidade da conexão a níveis bem inferiores aos divulgados. Os contratos normalmente têm uma cláusula que os obriga a oferecer "até" certo volume de dados por segundo, medido em bits por segundo (bps). A velocidade das nossas conexões costuma variar ao longo do dia, dependendo do horário. No quadro acima, você pode testar qual a velocidade real da sua conexão nesse instante. Clique na pirâmide azul, o retorno é imediato. E me diga o que achou.

terça-feira, 3 de junho de 2008

lua nova - mensagem de Barbara Wolf


Barbara Wolf escreve:

"Hoje é noite de lua nova. De acordo com os nativos norte-americanos, cada fase da lua tem um significado especial. A lua nova de hoje simboliza a Árvore da Vida.

Para os nativos da América do Norte, a Árvore da Vida reúne todos os reinos da Terra - o vegetal, o animal, o mineral, o humano. Para eles, todos os ramos da Árvore da Vida são iguais. Igualmente importante, a árvore floresce quando é alimentada com amor.

Nós, humanos, somos parte dessa árvore. O que nós fazemos e como nós agimos têm influência sobre toda a árvore. Se emanamos amor, a árvore florescerá.

Então, hoje à noite, nesta lua nova, vamos alimentar a Árvore da Vida com amor, assim ela florescerá. Você pode começar a fazer isso facilmente, enviando pensamentos de amor.

Paz, Amor e Luz,
Barbara Wolf"

Imagem: cortesia de
www.kosmic-kabbalah.com.

vida e morte no mundo virtual

A imprensa daqui divulgou, recentemente, o caso da adolescente que se suicidou depois que o namorado virtual terminou com ela. A ética do jornalismo evita que casos de suicídio sejam divulgados. Mas esse teve seu lado perverso e virou notícia. Não sei se a imprensa no Brasil falou no assunto.

Megan Meier, de 13 anos, tirou a própria vida quando recebeu um fora de Josh Evan, 16, com quem nunca se encontrara pessoalmente. O namoro ocorria nas salas de bate-papo e no MySpace. Ao terminar o relacionamento, o namoradinho teria mandado a ela uma mensagem em que dizia "o mundo seria melhor se você não existisse". A menina levou o comentário ao pé da letra e se enforcou no próprio quarto. Mas o lado perverso da notícia vem agora: era Josh Evan que não existia, a conta do MySpace era fictícia, um perfil falso que havia sido criado pela vizinha, Lori Drew, mãe da melhor amiga da Megan, para tentar saber o que a filha e a amiga andavam aprontando.

Isso aconteceu em 2006 e voltou às manchetes agora porque o ministério público finalmente encontrou uma base legal para processar a vizinha megera. A acusação: acesso não-autorizado a dados pessoais protegidos. Parece pouco e é - a pena máxima nesses casos é de cinco anos de cadeia. Ou não, se considerarmos que a vizinha não tinha a intenção. De qualquer modo, esse caso mostra que as bases legais válidas antes da Internet não servem mais, precisam ser atualizadas, ou o Estado não terá instrumentos efetivos para reprimir a violência on-line, com reflexos bem concretos.

O que você acha, a vizinha merece ir para a cadeia ou não? Deixe um comentário.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

mascote virtual: ajude-me a dar-lhe um nome

Olá!
Vejam aí ao lado a gracinha que é esse gatinho. Mova o mouse perto dele e observe as reações. Não é lindo? Agora, falta escolher um nome, e para isso gostaria de sugestões. Listei algumas opções, mas não precisa ficar limitado a elas. Se quiser sugerir outro nome, me mande por e-mail (lucero.everton@gmail.com) que eu adiciono na lista.

trecho do blog de Andrew Cohen que me chamou a atenção

minha tradução:
"Aqueles de nós que estamos na dianteira na cultura ocidental já atingimos alto nível de individualismo e liberdade pessoal, mas nesse processo, nós parecemos ter perdido contato com um sentido maior de propósito e conexão. Nós chegamos ao fim da linha, e para avançarmos ao próximo estágio da evolução coletiva, precisamos encontrar um modo de nos unirmos. Precisamos saltar para além da individualidade, para uma unidade superior, na qual nós podemos encontrar soluções para as várias e desesperadoras crises globais que enfrentamos."

original (porque nenhuma tradução é confiável...):
"Those of us at the leading edge in Western culture have reached a very high level of individuation and personal freedom, but in the process we seem to have lost touch with a larger sense of purpose and connectedness. We've reached a dead end, and in order to move to the next stage in our collective evolution, we need to find a way to come together. We need to take a leap beyond individuality to a higher unity in which we can find enlightened solutions to the many desperate global crises that confront us."

Fonte: http://www.andrewcohen.org/andrew/revolution-consciousness-culture.asp?ifr=hpNews

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Purusa e Prakrti: a Criação

fonte: Alan McAllister, Human Spiritual Structure: The Circle of Creation (livre tradução do texto original em inglês)

O ponto de início é Brahma: um, indivisível, sem atributos, também chamado de Nirguna Brahma. Em Brahma, há paz infinita. Brahma está em repouso, suas três forças primordiais, ou gunas, estão balanceadas. Elas fluem linearmente, criando padrões triangulares ou poligonais, sem colisão. Não produzem ondas nem vibrações. Neste estado, Prakrti está abrigado em Purusa, ainda não há criação, nem objeto nem sujeito, e Prakrti ainda é imanifesto.

Quando as ondas de gunas reúnem-se, tendem a formar triângulos, e gradualmente todas as outras formas poligonares transformam-se em triângulos (a mais estável das estruturas). A rede desses triângulos forma a matriz, ou ventre, da qual toda a criação fluirá. Embora infinitas, essas estruturas estão todas centradas em Purusa. Esse é o primeiro estágio no processo de cristalização, no qual Prakrti está cercando Purusa com suas forças, ou gunas, mas embora Purusa seja afetado por essas forças, ele (Purusa) ainda as controla. As gunas agora têm identidades separadas e os triângulos são vórtices nos quais elas transformam-se umas nas outras, ainda em perfeito equilíbrio, sem objetivo nem resultado.

A expressão da criação é chamada de Saguna Brahma, ou Brahma qualificado pelas gunas. Essas forças de Prakrti lutam por controle até o ponto em que ocorre algum desequilíbrio na matriz triangular e a força resultante emerge de um dos vértices. Esse ponto é chamado de semente ou desejo e é a origem do universo manifesto no qual Purusa é encapsulado por Prakrti, que agora detém a meta da expressão. Esse é o processe pelo qual a criação manifesta é imaginada na mente de Deus.

Saguna Brahma forma-se dentro de Nirguna Brahma, assim que em algumas partes de Nirguna Brahma, Prakrti, por meio das gunas, começa a conter Purusa. Este processo é análogo à condensação das galáxias ou sistemas solares a partir de nuvens de poeiras cósmicas maiores e quase homogêneas, ou ao crescimento de cristais a partir de sementes numa solução. Prakrti se estende somente às porções qualificadas, expressas, de Brahma, e opera somente com a permissão de Purusa.

citação de Eckhard Tolle

"Você tem de ter falhado gravemente de algum modo ou passado por alguma perda profunda, ou por algum sofrimento, para ser conduzido à dimensão espiritual."

domingo, 13 de abril de 2008

mensagem recebida da minha amiga Selme

"... Toda transformação começa sempre caótica e desconfortável. Os caminhos conhecidos são seguros e fáceis. Mas só conduzem aos lugares onde já estamos, e não desejamos ficar. O caminho do novo é cheio de riscos, surpresas e cansaço. Mas sempre premia os que escolhem, com a chance de descobrirem e experimentarem a vida que querem viver." (Geraldo Eustáquio)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Minhas queridas

Iniciei a leitura de "Minhas Queridas", da Clarice Lispector. O livro é uma coletânea de cartas pessoais da escritora para as irmãs, durante sua estada fora do Brasil, para acompanhar o marido diplomata. Fiquei impressionado com a sensibilidade, o carinho e a aguda percepção da realidade de uma época. Uma máxima lida hoje:
"Se a gente tivesse duas vidas, não fazia tanto mal ser tão gorda numa delas."
Ou essa: "Viajei também com vários portugueses, todos ligeiramente burros."
Ou mais essa: "O mundo é todo ligeiramente chato, parece. O que importa na vida é estar junto de quem se gosta". Verdade.