Os líderes do Século XXI serão aqueles capazes de ouvir mais e falar menos; de trabalhar mais e ganhar menos; de doar-se mais ao bem comum e menos aos interesses sectários e particulares. De buscar o poder não para satisfazer o ego, mas sim para exercê-lo com humildade e zelo, a serviço de quem lhes deu o mandato.
Nossa sociedade está em transformação, e as estruturas políticas que
nos governaram por séculos não se manterão intactas diante da revolução
das comunicações, das redes sociais, da conexão em escala global. Todos
acompanhamos de perto cada ato, cada gesto das pessoas públicas. E o
mínimo que esperamos dos nossos representantes é que sejam dignos do
Povo que representam.
No Século XXI, nossos governantes não poderão mais ignorar a vontade das
ruas, não poderão viver de conchavos e falcatruas, não poderão abusar
dos privilégios do cargo sem serem devidamente responsabilizados.
Precisamos de deputados e senadores que
honrem a Nação. Que desçam do alto de seus privilégios, abandonem os
carros de luxo, usem os serviços públicos que eles próprios têm a
obrigação de zelar para que funcionem bem para todos os cidadãos.
Qual melhor fiscal da educação e da saúde do que um parlamentar cujos filhos frequentam escola pública, e quando necessitam de tratamento médico, é ao SUS que recorrem?
Como seria o transporte público nas nossas cidades se os vereadores, deputados, senadores, ao terminar a pauta diária de votações, se encaminhassem para o ponto de ônibus mais próximo? Se eles representam o povo, é tão utópico querer que SEJAM também o povo?
Precisamos de um governo que garanta direitos, seja âncora da
cidadania, promova a expressão popular, abra mais canais de
participação, descentralize e distribua o poder. Para isso, as estruturas de governo precisam ser radicalmente invertidas: o maior poder de decisão - e a maior parcela do orçamento - será da localidade, depois dos Estados, e só residualmente da União.
Nas estruturas de governança do Século XXI, aquelas que estão mais
próximas do cidadão - no bairro, nos núcleos locais, nas prefeituras -
assumirão a centralidade do processo decisório de tudo o que afetar a
vida da comunidade local.
Hoje - porque este já é o Século XXI, embora grande parte da nossa classe política ainda pareça comportar-se como se estivéssemos no Século XIX - reclamamos de volta as decisões sobre nossos próprios destinos. Não queremos apenas dizer a cada dois anos quem nos representará. Queremos participar, a cada dia, das decisões sobre a destinação do dinheiro público - do nosso dinheiro.
E o papel do governo nessa nova realidade? Garantir a participação. Assegurar um processo aberto, legítimo e transparente. Criar canais de controle social e representação popular em Conselhos Cidadãos em todas as esferas do governo, ouvir e implementar suas deliberações. E abandonar a prática atrasada de querer saber de tudo, resolver tudo, trazer soluções já prontas, como que tiradas da
cartola!
No Século XXI, ou aprofundamos a democracia, ou teremos de continuar tomando as ruas para resolver as coisas. Vamos garantir, pela voz das ruas e pelo imperativo da ética, que saiam do poder os mal-intencionados, os acomodados, os apegados às benesses e privilégios. E que entrem em cena aqueles que estão definitivamente comprometidos com bem da coletividade.