quarta-feira, 19 de junho de 2013

E agora, José?

O povo saiu às ruas, viva o Brasil! Os protestos demonstram que nossa sociedade está viva, atuante, quer participar mais, está insatisfeita, rejeita os mandos e desmandos de um modelo político arcaico e ultrapassado.

Mas fora a insatisfação generalizada, o movimento não tem pauta; não revelou novas lideranças; não criou demanda concreta por mudança. A pauta é o transporte público gratuito? Pouco. Os 20 centavos foram o estopim de uma crise bem maior que fervia em banho-maria, aguardando o momento de aflorescer. E só veio à tona diante da percebida impermeabilidade dos poderes constituídos em ouvir e dar vazão às demandas sociais mais prementes: qualidade na saúde, na educação, no transporte, nos serviços públicos, enfim, resgate da dignidade da cidadania.

Isso é maravilhoso, mas não ainda o suficiente para gerar as mudanças que se fazem necessárias na cultura política nacional, em todos os níveis. A mobilização geral da nação que assistimos nesses dias corre o risco de esvaziar-se por si, tal como o "occupy wall street", ou o movimento dos indignados da Espanha, em 2011. E a melhor estratégia do governo é, como de fato tem sido, deixar acontecer essa catarse coletiva, na expectativa de que amanhã todos cansem de ir à rua e voltem às suas vidinhas mais ou menos. E a classe dominante poderá manter seu estilo de governar também mais ou menos: mais ou menos democrático, mais ou menos aberto, mais ou menos atento aos anseios da população, mais ou menos solidário com a situação calamitosa dos serviços públicos, mas sem ter necessariamente que encarar de frente os problemas, com ânimo de resolvê-los.

Mais ou menos. Porque é de dignidade que as ruas estão falando. E se é para voltar à vidinha mais ou menos de sempre, violentada pelo peso excessivo da burocracia, dos impostos, da intromissão do Estado, e pelos serviços mais ou menos, o brasileiro continuará sem dignidade. E este é o pior caminho a seguir, porque sem dignidade, nada mais tem importância.

Mas então, qual é o próximo passo? Para onde rumar? Quem dará o norte dessa caminhada? E qual a demanda que vai manter viva a mobilização demonstrada nas ruas?

O brasileiro já saiu às ruas pelas diretas já, pelo impeachment do Collor, por reformas de base. Está de novo nas ruas, e esse é um fenômeno da maior relevância. Mas e agora, José?

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