sábado, 25 de setembro de 2010

filosofia nos EUA

Participei hoje de um encontro com Jeff Carreira, em que ele fez uma palestra sobre "the nature of inquiry" (a natureza da inquirição). Foi tão bom que até resolvi voltar a escrever nesse blog, depois de tanto tempo, só para deixar registradas minhas percepções do que lá foi tratado.

Jeff dedica-se a identificar as raízes filosóficas da não-dualidade evolucionária entre pensadores norte-americanos. A não-dualidade evolucionária mereceria vários posts, mas por enquanto basta dizer que é a linha filosófica-espiritual liderada pelo guru pós-moderno Andrew Cohen, sobre quem já escrevi neste e em outros posts aqui no blog.

Segundo Jeff Carreira, as ideias de Cohen encontram amparo na filosofia norte-americana em Emerson, Charles Peirce, William James, John Dewey e Whitehead (este, embora britânico, teria tido seus anos acadêmicos mais produtivos depois que mudou para Harvard, já mais para o final de sua carreira).

Jeff Carreira recuperou as noções de "inquirição radical", de Peirce, de filosofia pragmática (James), da evolução da linguagem (Emerson) e das ideias como vórtices e fontes de mudança da realidade (Dewey). Essa base conceitual busca dar contexto filosófico à proposta de Andrew Cohen, que como sabemos teve forte influência das doutrinas hinduístas, tendo sido ele mesmo seguidor de um mestre Vedanta-Advaita por vários anos, até optar por seu próprio caminho. Ao enraizar o pensamento de Cohen na filosofia norte-americana, Carreira não somente oferece ao público do Novo Mundo um modelo filosófico próprio, autóctone, independente de raízes hindus, mas também recupera para esse mesmo público alguns valores filosóficos que estão na base da sociedade norte-americana, e de tão enraizados, são dados como naturais e inquestionáveis. Ninguém lembra, por exemplo, que o estilo pragmático e voltado a resultados, tão típico dessa sociedade, está respaldado no pragmatismo de William James, que apresenta o ser humano como mais um método de organização da realidade.

Mas o que mais me interessou foram as ideias de Charles Sanders Pierce. um filósofo revisionista radical, que levou a teoria da evolução darwiniana às últimas consequências, ao propor que a evolução não se limita às espécies, mas se estende à realidade como um todo. Ideias também estão em constante processo de evolução, o próprio tempo sequencial e o espaço 3D seriam resultado de um processo evolutivo. Definitivamente, terei que ler mais sobre esse pensador visionário.

Andrew Cohen se dedica a tentar explicar a natureza da consciência. Propõe que a condição humana é universal, e nossa ilusão de separatividade é produto de um processo evolutivo do Cosmos. A consciência, nesse contexto, não seria individual, o que quer que tenha consciência em cada um de nós seria a manifestação de uma única consciência universal, querendo expressar-se para realizar a si própria. Isso tudo por nosso intermédio.

Minha conclusão (parcial, subjetiva e provavelmente errada) é que os limites da nossa mente, pela lógica e pela razão, não permitem que tenhamos compreensão sobre a natureza da consciência, muito menos o seu propósito. A inquirição filosófica a que se dedica Jeff Carreira pode estar certa ou errada, isso nunca saberemos. Mas se estiver certa, e nós formos mesmo um meio para a expressão da consciência universal, isso muda radicalmente o modo de percebermos o mundo e nele atuarmos. Porque, se isso for verdade, não pode haver nada de mais importante na vida, do que colocarmo-nos à disposição do universo, assumirmos a humilde postura de sermos apenas instrumentos para a expressão de um propósito muito maior do que jamais teremos capacidade de perceber.

E isso, para mim, faz todo o sentido.