quinta-feira, 21 de agosto de 2008

o coletivo não tão harmônico

As reações que recebi ao texto anterior, sobre a 'harmonia do coletivo' demonstrada na abertura da Olimpíada, me fizeram repensar o que escrevi. Parece que a harmonia chinesa resulta de processo forçoso e autoritário. A supressão do indivíduo existe por imposição do poder público. A coordenação dos movimentos, que dá a impressão de tanta conexão entre os pares, seria o resultado de um treinamento marcial, feito por soldados do exército vermelho. Em resumo, a harmonia é exterior, tem efeito bonito, mas não encontra eco na consciência individual.
Mas não desisto da minha busca por exemplos de harmonia da coletividade. Acredito no surgimento de uma consciência pós-indivíduo, por meio da reunião de pessoas que, por estarem tão integradas e conectadas, superem o ego em favor da manifestação coletiva. Esse é para mim o próximo passo lógico e natural no processo evolutivo da nossa espécie.
'Harmonia', aliás, é um importante quesito de avaliação das escolas de samba no nosso carnaval. Será que as escolas de samba poderiam ser exemplos tupiniquins dessa harmonia do coletivo? O maior show da terra seria a nossa demonstração da capacidade de ação coletiva de forma coordenada e harmônica?
O resultado é bonito. Quem já desfilou na Sapucaí deve ter experimentado, como eu experimentei, a euforia inigualável de ser parte da escola; a sensação de anular a individualidade para permitir a manifestação do grupo, sendo cada um parte essencial dele; a resposta imediata - e também coletiva - da arquibancada.
O fato é que, independentemente da existência de exemplos pontuais e esporádicos de harmonia coletiva, o grau de consciência da humanidade, que segue privilegiando o individualismo e a competição, não permite ainda que migremos para manifestações realmente autênticas e espontâneas dessa harmonia. Ou seja, temos um mundo a construir.

Um comentário:

MARCELO AMORELLI disse...

Ton, claro que a questão envolve várias variáveis. Especialmente, em se tratando de China. Entretanto, o que há de errado sobre a harmonia do coletivo advir através do 'poder público'. Aliás, não seria poder público o poder do povo? Em democracias, em nome do povo, realizado por meio dos eleitos pelo povo? Claro que - novamente - a questão chinesa difere neste ponto. Contudo, e usando seu próprio exemplo do Carnaval, alcança nota 10 a escola que consegue dirigir, monitorar, acompanhar seus integrantes, e extrair deles o melhor em cada um dos quesitos que serão analisados, inclusive harmonia. De novo, pressupõe comando, direcionamento, governança. Acredito que harmonia, em sim, é a arte de se integrar com algo ou alguém, e leva à concepção de coletividade, em várias acepções. Acredito, também, que não há mal algum que esta 'harmonia' seja buscada através dos Estados, por exemplo. Saudoso abraço, migow! Marcelo.