terça-feira, 18 de junho de 2013

Peço licença para usar essa imagem que achei publicada no Facebook de Layana Thomaz. Ela simboliza o ânimo da população, querendo abraçar o Congresso, retomar para si a condução das decisões nacionais, reclamar de volta a delegação que fizeram aos políticos que, depois de eleitos, parecem encastelar-se por detrás de barreiras da burocracia, dos interesses privados, dos conchavos eleitoreiros, e esquecer-se a quem de fato devem satisfação.

Não pode haver gesto mais patriótico do que abraçar um símbolo do Brasil, cobrir-se das cores verde e amarelo e demandar reformas. Queremos um país decente, limpo, honesto e moderno, que coloque a qualidade de vida dos seus cidadãos como a prioridade acima de qualquer outra.

Muito se discute o que terá motivado tanta gente a sair de sua zona de conforto e unir-se aos protestos de rua.  Afinal, não vivemos um período de boom econômico? De quase pleno-emprego? De inédito combate à pobreza? De grandes investimentos e aquecimento da economia?

Quando o povo sai às ruas, é preciso ouvir. Algo está errado no modo como conduzimos nossa vida em sociedade. Os manifestantes pedem mais do que um transporte público de qualidade. Vociferam a esperança recuperada de uma população oprimida por um sistema político que não lhe dá voz, apenas lhe pede votos.

Motivados pela resistência aos vinte centavos de aumento, os protestos levantaram ampla agenda de demandas e problemas nacionais, cuja discussão a classe política não tem sabido - ou não quer - encaminhar.

Transporte caro e de má qualidade, saúde pública precária, educação que não educa para a cidadania, gastos bilionários para atender demandas da Fifa, violência e banditismo crescentes, preços que sobem mais do que registram as estatísticas oficiais, distribuição de cargos por interesses eleitoreiros, serviços públicos e privados que não funcionam, todos esses são motivos mais do que justificados para protestar. Mas não são as causas.

A modernidade da comunicação instantânea, as redes sociais, a informação mais acessível e imediata, a facilidade de mobilização e são fatores que têm alterado as interações sociais em todos os níveis, e agora começam a afetar o modo como sempre fizemos política. Surge uma nova consciência do que é ser cidadão e participar da vida nacional. Não basta apenas votar a cada dois anos, nem mesmo sair, aqui e acolá, com vassouras verdes e amarelas e a boa intenção de varrer a corrupção do país.

Nossas instituições políticas, ainda dominadas por práticas de um coronelismo de antanho, não se atualizaram no mesmo ritmo em que cresceu a consciência da população. O que precisamos é de uma reforma política ampla e abrangente, que introduza na vida nacional as práticas saudáveis de uma democracia direta, mais próxima de quem é diariamente afetado pelas decisões coletivas, seja no município, no estado ou no país. É preciso introduzir mecanismos que dêem vazão a essa demanda por cidadania participativa que hoje vemos nas ruas. Nossa democracia precisa aperfeiçoar-se.

Decisões de gabinete, tomadas na ausência de mecanismos de controle social e participação cidadã, não podem mais ocorrer. A população quer escolher como será gasto o dinheiro público. Se há fundos suficientes para construir estádios bilionários, como vamos aceitar que não existe dinheiro para oferecer serviços de qualidade na saúde, na educação, no transporte público? \

Cabe ao governante garantir um processo decisório transparente e participativo, e cabe à população dizer o que quer. Não se pode esperar que um prefeito, um governador, um deputado ou senador seja capaz de traduzir fielmente a vontade das ruas. No nosso mundo interconectado, ninguém tem mais a visão do todo.

Abracemos sim o Congresso Nacional, porque ele é a nossa casa. O movimento cívico que assistimos mostra que o brasileiro sabe muito bem o que quer. Precisa ter meios e modos de expressar-se sobre as decisões que afetam sua vida. Na ausência desses canais de atuação popular, só resta ir às ruas e lembrar ao país quem está de fato no comando.

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