segunda-feira, 24 de junho de 2013

como admirar a beleza do todo?

Nosso modo de pensar não evoluiu ao ponto de acompanhar o fluxo expandido de informações que recebemos como internautas.

Hoje pensamos em caixinhas, precisamos pensar em rede. Só porque estamos expostos uma quantidade muito maior de informação, supomos que comprendemos o que se passa ao nosso redor, e até começamos a achar que podemos ter opinião abalizada sobre qualquer coisa.

Ninguém hoje em sã consciência pode afirmar que tem visão do todo. O volume de informações disponíveis exige que tenhamos a humildade de reconhecer-nos incapazes de, sozinhos, fazer delas algum sentido.

Isso impõe-nos um valor e uma condição: o valor da colaboração, do trabalho em grupo, do reconhecimento que o todo será maior do que a soma das partes. E a condição de que tenhamos respeito pela posição alheia, que saibamos ouvir, que deixemos de lado nossa tendência histriônica de impor a visão individual aos demais, à base do grito se for necessário, somente porque acreditamos que nossa opinião é superior à do outro.

Também precisamos abandonar aquela nossa faceta de querer desqualificar o interlocutor, xingando-o de *coxinha*, *vândalo*, *reacionário* ou *direitista*, porque ele ousa ter opinião distinta da nossa.

Isso advém de uma crença errônea na superioridade do indivíduo sobre o coletivo. E não adianta dizer que "o povo não sabe o que quer", "veja aí, pedem tudo e não têm foco". Porque esse raciocínio é típico de quem pensa dentro da sua caixinha individual.

As recentes manifestações que tomaram as ruas do País provam que ninguém controla o Brasil. Ninguém entende o país. Ninguém pode mostrar com segurança qual o rumo que a nação vai tomar. E isso não é bom nem ruim, é a nova realidade na qual precisamos aprender a viver.

A Presidente não está no controle. Ela viu de perto o abismo político que a ronda nesses dias, tenta fazer o melhor para evitá-lo, e merece crédito por isso. Mas tanto sabe que não poderá domar o gigante sozinha, que imediatamente chamou governadores e prefeitos para discutir cinco "pactos" sobre como conduzir os anseios provenientes das ruas. 

A Polícia não está no controle. As balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio só comprovaram isso. Escalar a resposta policial, chamar a Força Nacional ou o Exército seria a receita para mais caos e violência, não para a ordem.

Não há doutor nem professor, não há médico nem jogador de futebol, não há movimento social, partido político, sindicato, rede de televisão nem jornal que possa afirmar que detém a visão do todo. A verdadeira sabedoria é a do Riobaldo, "eu quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa".

Porque o todo não é uma orquestra organizada e estudada, que responde em uníssono ao movimento da batuta. O todo é um emaranhado de ideias e opinioes, angustias e reflexões, medos e paixões, todos expressos conjuntamente, simultaneamente, numa grande rede amorfa mas viva, invisível mas pulsante, autônoma mas ao mesmo tempo totalmente dependente de cada um de nós. E que agora está ao alcance do dedilhar do teclado.

São milhares, milhões de mentes em atividade, agora conectadas e informadas, que produzem demandas as mais diversas, por vezes contraditórias, mas todas igualmente válidas desde a perspectiva de quem as apresenta.

Poderíamos chamá-la de ciberespaço, consciência coletiva, de gigante que desperta, de insatisfação generalizada, mas o fato é que qualquer nome a irá rotular, e a fará escapar novamente da compreensão, ao transmutar-se em algo diverso e inominável.

Saia da caixa. Aprenda a ler, ouvir e respeitar os sinais do inominado coletivo, e não busque fazer sentido de tudo. Perceba que não há um corpo social unificado que se manifesta contra a ordem estabelecida, contra a corrupção, contra a Fifa; que demanda melhores serviços públicos; que cobra ações dos governantes, que rejeita a PEC 37 e pede a renúncia do Feliciano.

O Brasil é plural, é megadiverso, e é isso que faz sua beleza e deve ser motivo de nosso orgulho. Entregue-se ao deleite de nossas contradições, é daí que poderemos dar um sentido maior às nossas próprias vidas e a essa grande Nação!


Nenhum comentário: