"Todos juntos vamos, prá frente Brasil, do meu coração"
Quem
diria que o ufanismo da pré-Copa de 1970 seria reinventado pelas ruas
do Brasil, quatro décadas mais tarde, numa versão
anarco-estudantil-anti-tudo-o-que-está-aí! Ao ver as imagens de
Brasília, observo símbolos da Nação, como o Meteoro do lago do
Itamaraty, sendo reivindicados como troféus de uma turba ensandecida.
Mais além do civismo de protestar por um Brasil melhor,
de dar vazão à insatisfação generalizada que assola a Nação, aguarda-nos
uma pergunta: quando é que o povo vai dar-se por vitorioso? O que será
preciso para terminar o movimento?
À força, já se viu que não vai. O povo precisa de uma vitória
clara, concreta. O protesto é histórico e inédito, o fim de uma guerra
não reuniria tanta gente. Requer uma mundança igualmente histórica para
justificar o esforço. Baixar o preço das passagens já não basta. A
espontaneidade das ruas adquiriu valor político inigualável, capaz de
abalar as estruturas do País. Não há como voltar atrás.
A ausência de liderança que sintetize e conduza o anseio coletivo
só adiciona mais pólvora a essa bomba-relógio que vemos aproximar-se do
ponto de detonação. O perigo é iminente: um passo em falso, uma morte
desavisada, uma reação exagerada pode deflagrar situação de caos muito
maior, com risco sério de radicalismos e repressão verdadeira. A infiltração de oportunistas, de direita ou de esquerda, adiciona
cenários mais complexos para um possível desfecho da situação.
Imagino que os governantes, diante dos fatos, só devem pensar no
quê oferecer em sacrifício coletivo, para acalmar a turba. Renúncia?
Impeachment? Reformas de base? Cancelamento da Copa? Ato Institucional
que decrete estado de exceção para restauração da ordem? Não me parece
que qualquer opção esteja descartada.
No entanto, até agora, as instituições políticas estão tão
perplexas quanto imobilizadas. Partidos não encontram espaço.
Sindicatos, aliás inativos desde o início da era PT, não precisaram
convocar greve. Movimentos sociais organizados não lideram com palavras
de ordem. A Presidente ensaiou palavras de apoio, que não fizeram eco na
multidão. Prefeitos limitam-se a reduzir os preços de passagens, na vã
ilusão de que atenderiam o que o povo quer.
Ninguém segura o meu Brasil varonil! Algo de muito grande e
significativo vai acontecer, tem que acontecer. Só espero, rezo, desejo
com todas as minhas forças, que seja para o bem, para a paz, para
melhor. Ainda que algumas virgens tenham que ser sacrificadas em ode à deusa anarquia.
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