domingo, 17 de maio de 2009

gripe suína

A pandemia de gripe suína está servindo para revelar, pela via do sofrimento, que estamos mais conectados, em escala global, do que podíamos supor. A imprensa parou de dar tanto destaque ao assunto, mas a infecção continua a se alastrar, mais rápido do que os agentes de saúde são capazes de detectar novos casos, limitados à capacidade dos laboratórios de processar os exames para identificar o vírus. E a chegada do inverno no hemisfério sul traz o risco de um grande aumento no surto dessa doença, contra a qual não há resistência natural. 

Mas existe uma doença que é bem pior do que esta. Já tomou conta da humanidade toda e, para vencê-la, será necessário mais do que uma nova vacina. É doença  da indiferença, causada pelo vírus do egoísmo, propagada pela ilusão da separatividade. 

Estamos todos cada vez mais próximos, pelas comunicações, pela Internet, pelos transportes. Ao mesmo tempo, nunca estivemos tão distantes, cada um de nós encolhido na sua crisálida, com medo de um mundo que parece tão cruel, violento e assustador. 

Escolhemos não mais olhar para o sofrimento alheio, criamos filtros para vermos só o que interessa aos nossos propósitos egoístas e seguimos buscando a satisfação, a qualquer preço, de nosso próprio desejo de receber prazer. O resto que se dane. 

Às vezes, temos uma incômoda sensação de que essa nossa postura egoísta possa contribuir para os males do mundo, para a existência da fome, da miséria, da violência. Mas logo fechamos os olhos a essa possibilidade, porque "olhar para o monstro" não é uma atitude fácil, requer coragem e discernimento, então é preferível continuar culpando os políticos e os marginais e olhar para o "sistema" com a indiferença de quem dele não participa, por ele não é responsável, não está nem aí. 

E foi justamente essa indiferença que contaminou o mundo, alastrou-se em pandemia por todos os continentes, continua a manter-nos separados por uma barreira tão sólida quanto os muros de nossas casas, que nos dão alguma ilusão de segurança, ilusão essa com a qual preferimos continuar nos enganando. 
 
Se um dia superarmos o vírus do egoísmo, veremos que a mesma vida que surge e se manifesta em mim também existe em você e em todas as criaturas vivas. Talvez então possamos compreender que nada mais somos do que partes de um processo maior, de uma consciência universal e infinita, que se desdobra em constante processo evolutivo, do qual somos apenas um aspecto, tão importante quanto qualquer outro ser em que o mistério da vida se manifesta. 

Se quisermos adquirir essa nova consciência, precisaremos, em algum momento, deixar de nos vermos separados, isolados, com medo uns dos outros, reativos e reticentes à mera ameaça que possa questionar nossa instável ilusão de equilíbrio e conforto. Talvez nesse momento surja em nós um desejo de doar, que seja maior do que o de receber, que nos faça agir em função do que nós podemos oferecer ao mundo, mais do que dele extrair, que substitua em nossa psiqué o egoísmo pelo altruísmo, o desejo de separação pelo desejo de comunhão, a indiferença pela solidariedade. 

Quem sabe, então, possamos curar a Terra de todos os males. 

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