quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

guerra

A Faixa de Gaza entrou o ano sob bomardeio cerrado das forças israelenses. O conflito escalou-se para uma invasão por terra, ainda em curso. Esta é uma guerra que diz respeito a você, diretamente. Porque quando o mundo, inclusive você, celebrava o dia universal da paz, 2009 começou em guerra. E nada que pudesse evitar a perda de vidas inocentes foi capaz de contê-la. Nem a diplomacia, nem a democracia, nem o diálogo. O sistema internacional mostrou-se inepto: o Conselho de Segurança da ONU não logrou adotar decisão em favor de um cessar-fogo. O governo Bush, em fim de mandato, silenciou, e o presidente entrante não quis se antecipar.

Esse é só mais um movimento no intrincado jogo de xadrez do conflito do Oriente Médio, que não é de hoje. Israel contou com um vácuo de poder para adquirir mais uma posição de força, a partir da qual poderá negociar em melhores condições. É uma tentativa de aniquilar o Hamas, grupo considerado terrorista e portanto indesejado no governo palestino, apesar de ter sido democraticamente eleito em 2006. Há limites, portanto, para a democracia. A vontade popular pode escolher um governante do terror, e daí? Democracia, sim, desde que vença o meu candidato. Ou que o vencedor aceite as minhas condições. Nesse caso, as de Israel. Em troca, vai aceitar retirar-se de Gaza e voltar à situação em que se encontrava na véspera do bombardeio. Mas terá conseguido negociar melhor, com base na força, e terá no mínimo enfraquecido o Hamas. Mesmo que isso custe um milhar de vidas inocentes.

Vendo do outro lado, Israel só quer sobreviver, construir sua nação na terra de seus antepassados. Isso inclui não aceitar um governo vizinho que declare ter como principal objetivo aniquilar do mapa o "povo eleito". Os freqüentes bombardeios a Israel a partir de Gaza, comandados pelo Hamas, a partir de canhões escondidos em áreas densamente habitadas, escolas, asilos e hospitais, indicam provocação. Se sua própria sobrevivência está em jogo, é preciso lutar. Qualquer instinto tribal reagiria assim. Nesta guerra, portanto, não há como dizer com quem está a razão. A razão, aliás, se perdeu lá atrás, junto com o diálogo, a democracia, a diplomacia...

No duomilésimo nono ano da era cristã, é lamentável que a terra em que Cristo viveu esteja em conflito tão desumano, seja testemunha de tanto derramamento de sangue, veja esvair-se qualquer capacidade de entendimento e concórdia entre povos irmãos. Esta é uma guerra fratricida e desesperançosa. Demonstra como estamos longe de viver a paz, a harmonia e o entendimento como valores não-negociáveis, como se fossem leis naturais. Não sei se reagiria diferente, estando na posição de qualquer um dos lados, e você? Por isso, repito que essa guerra diz respeito a você, diretamente. Abençoados estamos, longe dos mísseis e da dor, ou amaldiçoados seremos, condenados a viver num mundo fratricida, onde a força vale mais que o argumento, onde a paz continua sendo um sonho distante.

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