sexta-feira, 10 de abril de 2009

visão de mundo


O livro 'Cosmos and Psyche", de Richard Tarnas, é um daqueles que abre horizontes. Estou ainda nos primeiros capítulos, e não resisto a compartilhar, desde logo, algumas idéias que enriquecem tremendamente o modo de olhar para o mundo à minha volta.
Segundo Tarnas, pode-se dizer que há, hoje, duas visões de mundo, ambas igualmente humanas, que definem nossa percepção da realidade: a visão materialista, antropocêntrica e desencantada que provém do Iluminismo e a visão romântica, cosmocêntrica e integral que tenta emergir nesse começo de milênio. 
O Ocidente ainda terá que chegar a termo com o paradoxo criado por essas duas visões, aparentemente irreconciliáveis. Por um lado, avançamos no conhecimento científico e objetivo do cosmos, na complexidade dos sistemas de organização econômica e social, no aproveitamento dos recursos naturais, ao ponto de nunca termos vivido em condições tão favoráveis, e tão superiores às demais espécies do planeta. Por outro lado, esses mesmos avanços permitiram o crescimento sutil mas inexorável de uma grande crise, uma crise que vai muito além do plano econômico e financeiro, atinge também os sistemas ecológico, psicológico e espiritual que construímos ao longo dos séculos. Ao privilegiar a razão e o progresso, separamo-nos do cosmos; assumimos a exclusividade da consciência e daí partimos em nossa trajetória de domínio e poder sobre tudo o que há à nossa volta. 
Uma visão de mundo não é apenas o modo pelo qual olhamos ao nosso redor. Ela também nos atinge internamente e define o modo pelo qual nos vemos a nós mesmos. Nossa visão de mundo configura nossa experiência psíquica, impõe os limites da nossa realidade, influi nas nossas escolhas éticas, define os padrões de nossa sensibilidade, conhecimento e interação com o mundo. A mente moderna e o raciocínio lógico e racional pressupõem uma divisão fundamental entre o ser humano, dotado de subjetividade, e o resto das coisas, existentes num mundo externo a nós, impessoal, objetivo. Todo o cosmos é visto como uma vasta experiência inconsciente, nada mais é do que matéria em movimento, funciona de modo mecânico, sem qualquer propósito, governado pelo acaso e pela necessidade. Enquanto o homem é consciente de sua própria inteligência, nega a inteligência a todo o resto. Ao fazê-lo, separa-se definitivamente do meio que o cerca, e vai além: subjuga-o, analisa-o fria e metodicamente, extrai dele o que necessita para seu próprio prazer e poder. 
Uma outra visão de mundo, no entanto, é possível, e tenta emergir nesse começo de milênio: uma visão que busca incorporar nos processos humanos também o inconsciente, o simbólico, o intuitivo, o arquetípico. Essa visão seria empurrada por um desejo profundo do próprio ser humano de reintegrar-se ao cosmos, de superar a fragmentação e a alienação da mente moderna. Haveria hoje um ímpeto em favor da reconciliação entre o homem e a natureza, o self e o mundo, o espírito e a matéria, a mente e o corpo, o consciente e o inconsciente, o pessoal e o transpessoal, o secular e o sagrado, o intelecto e a alma, a ciência e as humanidades, a ciência e a religião. 
É interessante observar que, historicamente, a visão materialista surge no momento em que Copérnico apresenta sua nova cosmologia. Ao retirar a Terra do centro do Universo, alterou a natureza essencial da realidade e alienou também a alma do mundo (anima mundi). Ao descobrirmo-nos um mero acaso na vastidão do Universo, percebemo-nos abandonados à própria sorte, no silêncio de um imenso vazio cósmico, cujo propósito é totalmente desconhecido e, talvez, inexistente. É essa percepção que determinou todas as construções humanas dos últimos cinco séculos: toda experiência religiosa, toda imaginação humana, todos os valores morais e espirituais foram a ela submetidos e reduzidos a idiossincrasias da condição humana. 
No entanto, nem por isso deixamos de ter intuição, sensibilidade estética e moral, imaginação criativa, apreço pelo amor e pela beleza, música e poesia, reflexões e experiências metafísicas. Esses atributos nos levam a uma permanente tensão e contradição conosco mesmos, já que a experiência subjetiva não pode ser medida, objetivada, cientificamente tratada.  O que está por detrás de toda essa polaridade é o desencanto com um cosmos sem propósito. Levado a extremos, essa visão trata o próprio ser humano como um mero objeto resultante de forças materiais e causas eficientes, um peão sociobiológico, um gene egoísta, um artefato biotecnológico. 
Para tentar superar essa aparente contradição entre o mundo objetivo e a experiência de subjetividade, é preciso reabrir questões mais profundas sobre nossa própria natureza e o modo como compreendemos o mundo; é preciso questionar a visão de mundo prevalecente desde Copérnico. É preciso entender mais claramente qual o papel de nossa subjetividade na vastidão cósmica, como essa subjetividade participa na configuração do Universo tal como o percebemos. É preciso retornar ao ponto original da cisão entre cosmologia e psiqué. 
Mal consigo esperar o próximo capítulo... 


segunda-feira, 6 de abril de 2009

como transcender a pós-modernidade?

Acabo de voltar de um retiro de fim de semana em Lenox, Massachusetts, com Andrew Cohen (foto), o guru americano da pós-pós-modernidade. Foi uma experiência fascinante, ainda tenho que digerir tantos conceitos revolucionários de quem está engajado em criar a consciência para uma nova era, que transcenda a pós-modernidade, esse período caracterizado pelo narcisismo, nihilismo, exacerbação do ego e separatividade. A visão de Andrew é fascinante, descreve o processo evolutivo da consciência como parte de um processo maior, cósmico, infinito, um impulso evolutivo primordial que se desenrola desde o Big Bang e prossegue no ato de criar a si mesmo por intermédio das nossas próprias consciências individuais. Seu ensinamento nos reposiciona diante do cosmos. Retira-nos do centro, porém mantém nossa importância essencial a todo o processo, porque o caminho da evolução se daria pela emergência de uma consciência coletiva, transpessoal, da qual somos veículos, e pela qual temos total responsabilidade. 
Registrei minhas impressões em outro blog, para iniciados e interessados em assuntos de consciência e evolução. Quem tiver interesse, pode ler na íntegra em para crescermos juntos